Segundo Zanoni Júnior (2000) pode-se definir musculação como a execução de movimentos biomecânicos localizados em seguimentos musculares definidos com a utilização de sobrecarga externa ou do próprio corpo.
Nahas (2006) cita que uma boa condição muscular proporciona maior capacidade para realizar atividades da vida diária, com mais eficiência e menos fadiga. Músculos fortes também protegem as articulações, resultando em menos riscos de lesões ligamentares e problemas como dores nas costas (lombalgias).
Conforme Zanoni Júnior (2000) algumas alterações músculo esqueléticas ocorrem durante a gestação como: músculos abdominais são alongados até o limite elástico no final da gravidez; a influência hormonal nos ligamentos é profunda, produzindo uma diminuição sistêmica da força de tensão ligamentar e um aumento na mobilidade das estruturas suportadas pelos ligamentos; hipermobilidade articular, podendo predispor a gestante a lesão articular e ligamentar especialmente nas articulações que sustentam o peso da coluna, pelve e membros inferiores.
Pelo fato dos objetivos da musculação não serem de conhecimento de todos, essa modalidade não é muito praticada pelas gestantes. Mas, em contrapartida sabemos que a musculação prescrita corretamente e com cargas adequadas pode trazer diversos benefícios para a gestante.
De acordo Matsudo (2000 apud Batista, 2003) tais benefícios podem ser divididos em dois tipos: biológicos e psicossociais. Os benefícios biológicos incluem as alterações físicas, fisiológicas, posturais, entre outras, sendo representados pelos principais efeitos orgânicos dos exercícios sobre gestantes. Já os benefícios psicossociais incluem as alterações de comportamento e sensações, exercendo influência direta sobre as atitudes da mulher grávida.
Dentre os benefícios biológicos, podemos destacar o que Santarém (2000 apud Batista, 2003), denomina de independência funcional, ou seja, a capacidade de realizar as atividades desejadas do dia-a-dia sem colocar em risco a integridade física do organismo. Como se sabe, a gestante pode vir apresentar algumas limitações em virtude das adaptações fisiológicas resultantes da gravidez. Entretanto, a prática adequada da musculação pode minimizar os efeitos destas possíveis limitações, pois proporciona o fortalecimento muscular e deixa a mulher grávida mais hábil para tolerar a sua massa corporal aumentada, alterar o centro de gravidade e realizar suas atividades do dia-a-dia sem riscos nenhum para sua integridade e para a integridade do bebê, atingindo um bom nível de independência funcional e, consequentemente, uma boa qualidade de vida.
Ao praticar a musculação, a gestante consegue obter desenvolvimento da tonicidade e da mobilidade muscular, além de também conseguir atingir um menor ganho de massa corporal e adiposidade. Isto faz com que a mulher grávida apresente melhoria da auto-imagem e auto-estima, aumentando sua sensação de bem estar. (BATISTA, 2003).
Quanto aos possíveis benefícios do exercício físico na gestação, além de tornar o parto mais fácil, o mesmo também irá ser eficaz em várias outras maneiras como: ajuda reduzir o inchaço nas pernas; melhora a circulação sanguínea; há um alívio em se tratando dos desconfortos intestinais; pode adquirir um fortalecimento e tonificação dos músculos da pelve, os abdominais e lombo dorsais; o equilíbrio muscular se amplia; pode melhorar os desvios posturais e a flexibilidade; auxilia na diminuição dos riscos de diabetes; e ajuda a melhorar à saúde de forma geral. (MIRANDA, 1986).
No aspecto emocional, a atividade física por prazer ou por obrigação leva a uma sensação de bem-estar pela liberação de endorfinas, que também podem diminuir a ansiedade e aumentar a tolerância à dor, embora não haja redução do período do trabalho de parto nem da intensidade das contrações uterinas. Tem também um efeito positivo na auto-imagem e nos distúrbios do humor, tanto durante a gravidez como no pós-parto. (BULGARELLI, 2002).
Conforme Lima (2005) apesar de ainda existirem poucos estudos nesta área, exercícios resistidos de intensidade leve a moderada podem promover uma melhora na resistência e flexibilidade muscular, sem aumento no risco de lesões, complicações na gestação ou relativas ao peso do feto ao nascer. Consequentemente, a mulher passa a suportar melhor o aumento de peso e atenua as alterações posturais decorrentes desse período. Todas as mulheres que não apresentam contra-indicações devem ser incentivadas a realizar atividades aeróbias, de resistência muscular e alongamento, essas devem escolher atividades que apresentem pouco risco de perda de equilíbrio e de traumas. O trauma direto ao feto é raro, mas é prudente evitar esportes de contato ou com alto risco de colisão.
Batista (2003) destaca além dos benefícios para a gestante, observou-se no feto um aumento do peso ao nascer e melhoria da condição nutricional. Diante de tudo isso, percebe-se os grandes benefícios que a musculação tem para a saúde da futura mamãe. Mas, o senso comum muitas vezes prevalece os estudos e pesquisas, e muitas grávidas deixam a atividade de musculação com medo de que possa prejudicar sua saúde gestacional devido ser uma atividade que muitas vezes limita alguns movimentos e que depende de uma sobrecarga para chegar a um objetivo.
De acordo com Schoenfeld (2001) ainda existem controvérsias no que se refere ao exercício de musculação praticado durante a gestação. Não há contra-indicações aos pesos leves, podendo ser mantidos com cuidado durante a gravidez. Já o uso de pesos pesados deve ser evitado, caso contrário pode ocasionar sérios problemas no fluxo sangüíneo para o bebê. Sabe-se que o treinamento permite que você preserve a massa muscular nesse período, mantendo a taxa metabólica basal elevada. Seu nível de atividade geral tende a diminuir nessa fase, portanto a manutenção do metabolismo é importante.
Segundo Peterson (2001) o exercício resistido diminui o risco de obesidade pós-parto, embora seja possível remodelar o corpo depois da gravidez, o melhor modo de neutralizar o peso pós-parto é ficar em forma durante a gravidez.
Algumas recomendações devem ser seguidas para a prática de musculação durante a gravidez: freqüência cardíaca não deve ultrapassar 140 bpm; realizar exercícios de 50 a 70% do VO2máx com duração aproximada de 40 minutos; a temperatura corporal materna não deverá ultrapassar 38,5ºC; não objetivar condicionamento físico durante a gravidez; realizar exercícios que ofereçam inclinação pélvica posterior, favorecendo o controle e a força da musculatura pélvica assim como a estabilidade pélvica alivia a dor e a fadiga da região lombo sacra. (VERDERI, 2006).
O programa dos exercícios deve progredir gradualmente quanto ao número de séries e variações. Exercícios para os pés e tornozelos (dorso-flexão, flexão-plantar e circundação), devem ser realizados eles ajudam a minimizar o edema e as câimbras musculares, já que favorecem a melhora da estabilidade da articulação. (VERDERI, 2006).
Conforme Artal (1999) durante a gestação e período pós-parto os exercícios regulares devem respeitar pelo menos três vezes por semana, é preferível à atividade intermitente. Atividades competitivas não devem ser estimuladas. O exercício não deve ser realizado no calor, umidade ou durante um período febril; os movimentos balísticos (saltos) devem ser evitados, o exercício deve ser feito em uma superfície adequada; a flexão ou extensão máxima das articulações deve ser evitada devido à frouxidão ligamentar; evitar atividades que requeiram saltos, movimentos bruscos ou rápidos e mudanças de direção, devido à instabilidade articular.
Protocolo de treinamento na gravidez segundo Shoenfeld (2001): um exercício por grupo muscular; três séries por exercício; um minuto ou mais de descanso entre as séries; quinze a vinte repetições por série; intensidade de 75% ou menos do máximo.
De acordo com Hanlon (1999 apud Batista, 2003) para a realização de exercícios físicos agradáveis, convenientes e benéficos durante a gravidez, é necessário planejar um programa de exercícios, incluindo os seguintes componentes: aquecimento, atividade aeróbica, exercícios de fortalecimento muscular, desaquecimento, exercícios de alongamento e relaxamento.
Segundo Hanlon (1999 apud Mariani, 2006) ao realizar exercício físico para a gestante, deve-se dar maior ênfase as áreas mais afetadas neste período, tais como: assoalho pélvico, abdominais, costas, membros inferiores e superiores, cabeça e pescoço.
O importante é respeitar as condições da gestante, aplicando os exercícios corretos e não deixá-las em situações desconfortáveis. Com uma prática regular e correta os benefícios são vários: aumento do nível energético; melhora na flexibilidade; redução do estresse cardiovascular; prevenção do ganho excessivo de peso; facilitação e recuperação mais rápida do trabalho de parto; promoção de uma boa postura; redução das dores nas mãos e pés, e maior tolerância a outras dores; prevenção de lombalgias e do diabetes gestacional; fortalecimento da musculatura pélvica; melhora da digestão intestinal; redução de partos prematuros e cesáreos; melhora do humor, auto-estima e da imagem corporal; redução de estresse; uma melhora geral na qualidade de vida.
Para que a gestante sinta-se segura na realização do exercício é importante que o profissional crie vinculo com a mesma, tenha conhecimento sobre o período gestacional, realize avaliações constantes e acompanhe a gestação da cliente juntamente com um obstetra e que saiba qual a melhor maneira de executar os exercícios para não prejudicar o bebê e a futura mãe.
Assim concluiu-se que o exercício físico, sendo regular, moderado e controlado desde o início da gestação, promove benefícios para a saúde materna e fetal.
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